Os medicamentos similares vão ganhar um selo para garantir a equivalência ao remédio de marca. Passarão a ser comercializados com as letras EQ (equivalente) na embalagem. Ao equiparar o similar ao genérico, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) espera que o preço do similar corresponda, no máximo, a 65% do do produto de referência. O desafio é fazer com que o consumidor troque os produtos na farmácia. O caminho será longo. Pesquisa do Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ) mostra que apenas 35% da população brasileira confiam no similar, enquanto 70% têm confiança no genérico e 79% compram o remédio de marca de olhos fechados.
A pesquisa foi feita após o lançamento da consulta pública da Anvisa que vai definir as regras de comercialização do produto com o selo de equivalente. O ICTQ distribuiu 2.061 questionários em 135 municípios de todas as regiões do país. Enquanto o genérico é bem identificado e tem a aceitação popular, o similar é pouco lembrado, e, muitas vezes, é confundido com o remédio de marca por indução. Ou seja, compra gato por lebre.
No recorte por tipo de classe social, a pesquisa do ICTQ confirma que as pessoas com maior poder aquisitivo preferem os remédios de referência. As classes A e B, com 42% e 25%, respectivamente, compram o produto de marca. As classes C, com 67%, e D/E, com 78%, costumam comprar os genéricos que custam em média 40% do produto de referência. Os similares aparecem na “lanterninha”, com baixos índices de preferência em todas as camadas da população.
No país onde 54% da população consomem medicamentos e o acesso não é amplo na rede pública de saúde, oferecer remédios com os mesmos princípios ativos e a garantia de qualidade e de eficiência fará a diferença no bolso. Comparamos os preços de três remédios com o mesmo princípio ativo (cefalexina). O produto de marca (Keflex) custa R$ 39, o genérico sai por R$ 8 e o similar é encontrado por R$ 16 na mesma farmácia.
“Embora seja amplamente difundido a diferença entre os tipos de medicamentos, o consumidor é induzido e se confunde na hora de comprar o remédio. Em geral, a população não sabe o que é o similar”, diz Marcus Vinícius Andrade, diretor de pesquisa do ICTQ. Ele completa: “Antes, os similares não passavam pelos testes de equivalência, e por isso ainda geram a desconfiança do consumidor e da classe médica”.
A funcionária pública Antônia Oliveira, 47, só troca o remédio de marca pelo genérico se o médico recomendar. Ela confirma que consegue economizar em média 30% se comprar o genérico. Em relação ao similar, a consumidora mantém a desconfiança: “Não confio nas coisas novas desse país”.
A técnica de enfermagem Inalda Maria Feitosa, 58, faz pesquisa de preço e opta pelo medicamento mais barato. “Troco numa boa, seja pelo genérico ou pelo similar. Escolho sempre o mais barato.” Já o motorista Geraldo Ramos de Azevedo, 53, natural de Alagoinha, nunca ouviu falar no produto similar. “Eu sabia que tem o genérico. O similar eu tenho desconfiança dá a sensação que é falso.”
Presidente do Sindicato das Farmácias de Pernambuco (Sincofarma-PE), Oséas Gomes, avalia que é difícil garantir que o preço do similar ficará até 65% mais barato. “Depende muito do mercado. Há produtos que não têm concorrência e há outros que disputam com o produto de referência. Por que o mesmo laboratório não fabrica os três (referência, genérico, similar)?”, provoca.
A assessoria de imprensa da Anvisa informou que a consulta pública do similar encerrou no dia 24 de fevereiro, mas não precisou o prazo para o remédio com as letras EQ (equivalente) ser colocado no mercado. Para receber a denominação EQ, os produtos terão de passar pelos testes de equivalência.
Depoimentos
"Só troco o remédio de marca pelo genérico se o meu médico indicar. O similar eu não compro porque não confio"
- Antônia Oliveira, funcionária pública
"Eu sabia que tem o genérico. O similar eu não conheço. Tenho desconfiança. Dá a sensação que é falso"
- Geraldo Ramos de Azevedo, motorista
"Troco numa boa, seja pelo genérico ou similar. Escolho sempre o mais barato".
- Inalda Maria Feitosa, técnica de enfermagem
Perfil do consumidor de medicamentos no Brasil
Índice de confiança
Brasil Recife
Marca 79% 88%
Genérico 70% 63%
Similar 35% 31%
Índice de confiança
Marca Genérico Similar
Classe A 82% 68% 31%
Classe B 82% 74% 35%
Classe C 77% 68% 35%
Classe D/E 76% 67% 31%
Medicamento que costuma comprar
Marca Genérico Similar
Classe A 42% 54% 0%
Classe B 25% 68% 2%
Classe C 27% 67% 3%
Classe D/E 15% 78% 1%
Índice de consumo regular de medicamentos
Classe A 63%
Classe B 53%
Classe C 52%
Classe D/E 57%
Medicamentos mais consumidos
Analgésicos 18%
Anti-hipertensivos 15%
Anticoncepcionais 7%
Anti-inflamatórios 6%
Vitaminas 6%
Fonte: Instituto de Ciências Tecnologia e Qualidade (ICTQ)